domingo, 8 de abril de 2012

"Nacional" Clube que jogou 1ª partida oficial de futebol do país.

Ele foi o primeiro clube a disputar a primeira partida de futebol no Brasil (em 1895, contra um time da Cia de Gás de SP), já revelou jogadores como Cafu, Deco e Dodô, e já contou com mais de 65 mil pessoas em seu quadro societário. Este é o Nacional Atlético Clube, um dos mais tradicionais clubes da cidade de São Paulo, que hoje disputa a quarta divisão do futebol paulista, paga um salário médio de R$ 800 a seus jogadores e sobrevive alugando as dependências do clube para eventos que vão de festas relacionadas à Parada do Orgulho Gay a cultos de igrejas evangélicas.

A história do Nacional, fundado pela empresa São Paulo Rail Way no fim do século XIX, é emblemática para mostrar a trajetória por que passaram os clubes de esporte e lazer de São Paulo e do Brasil. Essas associações viram seus sócios mudarem de hábitos ao longo das últimas décadas, passando a frequentar academias de ginástica e instalações esportivas dentro de seus próprios condomínios residenciais.

Se, na década de 1960, o Nacional possuía mais de 65 mil sócios, hoje conta com 3.000 associados. Os que pagam desembolsam cerca de R$ 40 por mês para usarem as piscinas e quadras do clube.

No futebol profissional, alterações na legislação trabalhista e a transformação do esporte em um negócio que movimenta centenas de milhões de reais acabaram com a competitividade dos clubes que viviam de revelar jogadores e não possuíam torcidas capazes de lotar estádios e atrair investimentos de marketing.

O advogado Edison Gallo, vice-presidente do clube e sócio do Nacional desde que tinha dois anos, em 1948, conta que o seu time do coração recebeu o nome que tem agora em 1946, em uma partida no Pacaembu. "Foi um jogo contra o Flamengo. O time entrou com uma camisa do São Paulo Rail Way no primeiro tempo. No segundo, voltou com a camisa do Nacional". A equipe carioca venceu por 4 a 2, para a decepção dos mais de 30 mil torcedores que foram ao estádio municipal.

Em 1992, uma bomba explidiu na arquibancada do estádio do Nacional durante uma partida entre Corinthians e São Paulo pela Copa SP de Futebol Júnior. O estudante Rodrigo de Gasperi, de 13 anos, morreu. Sua mãe, Ivone de Gasperi espera a indenização até hoje.

Em 1958, foi contra o Nacional que Pelé marcou seu primeiro gol depois de ser campeão da Copa do Mundo naquele mesmo ano, na Suécia. Antes disso, em 1939, o clube azul e branco alcançou sua melhor colocação no Campeonato Paulista, um quarto lugar, atrás de Corinthians, Palmeiras e Portuguesa.

"A gente sempre dava trabalho para os clubes grandes. Mas quando foi alterada a legislação trabalhista no futebol, acabando com o passe, o clube deixou de ganhar dinheiro com a revelação de jogadores, que era sua principal fonte de renda", recorda Gallo, referindo se às leis de 1993 (Lei Zico) e 1998 (Lei Pelé), que acabaram por extinguir a figura do "passe" do jogador, que era comercializado entre os clubes quando os atletas transferiam-se de agremiação. "Agora, o empresário chega aqui e leva embora os jogadores que nós criamos, e o clube não leva nada", explica Gallo.

Dentro deste quadro, o Nacional disputa agora Série B do Campeonato Paulista, que corresponde à quarta divisão, depois das séries A1, A2 e A3. Apenas três jogadores têm mais de 20 anos, e eles recebem salários entre R$ 2.000 e R$ 3.000. Os outros atletas são prata da casa da escolinha de futebol do clube, e recebem R$ 800, em média, por mês. "Além de futebol, ensinamos inglês aos garotos, uma tradição que sempre acompanhou o clube".

De fato, desde a sua fundação por ferroviários ingleses que comandavam a estrada de ferro que ligava São Paulo a Santos e a Jundiaí, quem joga no Nacional, também pode aprender inglês. Hoje, os cerca de 300 alunos da escolinha ajudam a compor o orçamento anual do clube, que gira na casa dos R$ 100 mil.

Além disso, uma vez por ano, as piscinas e quadras do clube são alugadas para a associação que organiza a Parada do Orgulho Gay, em São Paulo, para uma festa no dia que antecede a parada. Já o ginásio poliesportivo costuma ser alugado para eventos religiosos e cultos evangélicos.

As dependências do Nacional serviam também para festas, shows e eventos noturnos, mas os condomínios residenciais que vêm sendo erguidos nas imediações conseguiram uma ordem na Justiça para que o clube interrompesse a prática, para manter o silêncio e a paz no bairro. "Estamos aqui há mais de 100 anos, e os novos condomínios chegam dizendo que somos nós que estamos atrapalhando. Nem sempre a vida é justa", afirma Edison Gallo. "Mas não abaixamos a cabeça. O Nacional tem uma história a ser honrada. Enquanto eu estiver vivo, continuarei honrando".

Fonte: Vinícius Segalla
Do UOL, em São Paulo.


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