ENTENDA O CASO PASSO A PASSO DO SUSPEITO DE FAZER TERROR EM MUITAS FAMÍLIAS EM GOIÃNIA
O vigilante Tiago Henrique Gomes da Rocha,
de 26 anos, apontado como o autor de 39 mortes em Goiânia, disse que gostaria
de pedir desculpas à mãe dele e às famílias das vítimas pelos crimes que
cometeu. Em entrevista na tarde desta sexta-feira (17), ele não respondeu se
acredita ser doente mental, mas falou em "arrependimento" e afirmou
querer um tratamento médico para se livrar do que ele define como
"sentimento de raiva".
“Eu
queria pedir perdão pelo que fiz. Acho que agora não adianta mais, mas gostaria
de ter a chance de ser ajudado de alguma forma”, declarou, na sala de
investigação da Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos (Denarc), onde
está preso. De acordo com o delegado titular da Delegacia Estadual de
Investigação de Homicídios (DIH), Murilo Polati, uma avaliação psicológica do
suspeito está prevista para a próxima segunda-feira (20).
O jovem contou que se desculpou com a mãe
durante uma conversa que teve com ela logo após ser preso, na última
terça-feira (14). Porém, ao ser questionado sobre detalhes do que teria dito e
o que ela respondeu, Tiago se mantém calado, balançando a cabeça negativamente.
Durante a entrevista, o suspeito revelou
que tinha um sentimento incontrolável que o levava a cometer os homicídios.
“Não dá para explicar, era uma raiva muito grande”, afirmou.
O autor seria um vizinho. Além disso, o suspeito também afirma ter sofrido
bullying na escola. Essas recordações trariam o sentimento de raiva a ele, motivando
seus crimes.
Segundo os delegados que interrogaram o
vigilante, Tiago tinha o costume de assistir aos noticiários no dia seguinte
aos seus crimes, para ter certeza se a vítima tinha morrido e qual o nome da
pessoa. No entanto, ele diz que sentia remorso ao ver as reportagens. “Feliz
não. Era um sentimento de arrependimento”.
Força-tarefa
De acordo com o delegado Alexandre Bruno Barros, jovem revelou que interrompeu
a sequência de mortes após o homicídio de Ana Lídia Gomes, 14 anos,
porque teve medo de ser pego.“Ele disse que parou porque ficou com medo de ser
pego, por causa da força-tarefa. Depois voltou no último domingo porque não
aguentou mais, tinha que extravasar a raiva”, disse o delegado.
Mesmo com o medo de ser pego, o vigilante
disse que, ao ver o anúncio da criação, no dia 4 de agosto, da equipe especial
da Polícia Civil para investigar a série de mortes de mulheres, sabia que seria
uma questão de tempo até ser preso.
Em depoimento na quarta-feira (15), o
vigilante contou que era o responsável por 39 assassinatos, entre eles
homossexuais, moradores de rua e jovens. De acordo com a polícia, ele assumiu
15 dos 17 crimes investigados inicialmente por uma força-tarefa da Polícia
Civil.
Dois dos crimes apurados pela equipe não
foram assumidos pelo homem: a morte de Danielly Garmus da Silva, 23 anos, e a
tentativa de homicídio de Daiane Ferreira de Morais, 18. Entretanto, ele
confessou outras duas mortes de mulheres que eram apurados de forma
independente e, após a confissão, a polícia os incluiu na força-tarefa. São
eles os homicídios de Arlete dos Anjos Carvalho,
16, e de outra mulher identificada apenas como Edimila, mas que a polícia não
detalhou o caso.
O advogado de Tiago afirmou nesta manhã
que se impressionou com a riqueza de detalhes de seu cliente nos relatos sobre
os 39 homicidios assumidos por ele em Goiania. "Eu fiquei realmente
perplexo. Nunca vi nada igual", afirmou Thiago Húascar. Para ele, o jovem
é "insano" e precisa de tratamento.
Húascar diz ainda que, apesar de ter se
assustado com as revelações de seu cliente, continuará a defendê-lo na Justiça,
pois ele acredita que o vigilante é doente. "Ele não é normal, é insano,
tem problema mental e tem que ser tratado", diz.
Prisão
O vigilante foi preso na terça-feira (14), na Avenida Castelo Branco. Em
depoimento no dia seguinte, ele contou que era o responsável por 39
assassinatos, entre eles os de homossexuais, moradores de rua e mulheres
jovens.
No ano passado, o Ministério Público
Estadual ofereceu denúncia contra o suspeito por furtar uma placa de uma
motocicleta no estacionamento de um supermercado de Goiânia. Imagens de câmeras
de segurança mostram ele cometendo o crime.
Também no ano passado, ele foi preso em flagrante em uma motocicleta com placa
roubada, mas foi solto. O caso foi registrado no 5º Distrito Policial.
Vítimas
O primeiro crime da série de assassinatos contra mulheres em Goiânia ocorreu em
18 de janeiro deste ano, quando Bárbara Luiza Ribeiro Costa, de 14 anos, foi
executada por um motociclista no Setor Lorena Park. A morte mais recente foi a
de Ana Lídia Gomes, baleada em um ponto de ônibus no Setor Conjunto Morada
Nova, no dia 2 de agosto. Um motociclista passou pelo local e disparou contra a
garota, que não resistiu aos ferimentos.
Entre as outras mortes investigadas pela
força-tarefa estão a da dona de casa Lílian Sissi Mesquita e Silva, de 28 anos,
em 3 de fevereiro, e a de Janaína Nicácio de Souza, de 25 anos, morta no dia 8
de maio. Todas as vítimas de série de assassinatos eram jovens, mas não tinham
perfil parecido.
Segundo Deusny, durante o depoimento, o
homem lembrou com detalhes de todos os crimes. Ele citou, por ordem
cronológica, os assassinatos, mas não lembra o nome de todas as vítimas.
Investigação
Apesar de no início das investigações ter afirmado ter convicção de não se
tratar de um único autor das mortes de mulheres, a Polícia Civil disse agora
que há cerca de um mês já tinha elementos suficientes que apontavam o vigilante
como o assassino nos crimes investigados pela força-tarefa.
Dentre as provas reunidas, estão imagens
de câmeras de segurança que, segundo a polícia, mostram que o homem tentava
despistar a polícia usando uma capa vermelha sobre o tanque da moto de cor
preta.
Outras provas apresentadas pelos policiais
são roupas apreendidas na casa do suspeito que coincidem com as filmagens de
câmeras de segurança, além de objetos como uma faca e um martelo usados para
cometer os homicídios.
Fonte: Vitor Santana G1 GO