segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Jornal de grande circulação do Estado de Goiás destaca empresa de Campos Belos na área de alimentação


                     
Tudo começou com os ouvidos aguçados dos pais ao pitaco da filha caçula de 12 anos. “Vamos fazer aquele tempero da titia, mamãe?”. O ano era 1997 e o conselho poderia parecer estranho num momento em que Pedro Batista e Daudite Freitas lidavam com a falência recente de duas lojas e precisavam retomar as rédeas do orçamento doméstico. 

Nada de ouvidos moucos. Foram pedidas 10 cabeças de alho emprestadas. Isso mesmo, emprestadas. Esse foi o início da produção do primeiro lote de temperos da Preparo Alimentos. Atualmente, a fábrica de Campos Belos, na região Norte do Estado, comercializa, em média, 3,5 mil potes mensais do produto.

Mas histórias de sucesso semelhantes a essa costumam ter ingredientes difíceis. Amargos até. Depois do dissabor de não conseguir driblar as dificuldades econômicas dos primeiros anos do Plano Real, a família Batista Freitas tinha que trilhar um novo caminho para a criação dos filhos: Ábia, Adson e Adna Freitas, de 16, 14 e 12 anos, respectivamente.

Assim, os cinco integrantes da família começaram a vender de porta em porta o condimento caseiro – o produto era armazenado em pequenos potes de margarinas e colocados em sacolas de plásticos. Inclusive, o acerto da receita, nunca modificada, é razão do primeiro orgulho. “Hoje temos maquinários para triturar condimentos e descascar o alho, mas os ingredientes são misturados manualmente para manter a qualidade”, enfatiza Adson.

Das sacolas que rasgavam no meio da caminhada entre as ruas do município, na época, com pouco mais de 15 mil habitantes, ajeitaram uma banca na feira dominical e passaram a carregar os produtos num carrinho de mão. “Embora meus pais sempre tivessem incentivado o trabalho desde pequeno, tínhamos certa vergonha dessa caminhada à feira. Todos achavam que a caçula não tinha, mas ela admitiu que engoliu em seco só para ganhar churrasquinho”, confidencia Adson.

Um adendo: ele, aos 10 anos, ganhou uma caixa de engraxate para ficar na frente da loja dos pais e aproveitar os sapatos de algum cliente para ganhar uns trocados. “Meus pais sempre nos mostraram os valores do trabalho e somos bem quistos na cidade.”

Só na feira começaram a comercializar cerca de 80 potes de 500 gramas. Os primeiros rótulos eram escritos à mão, depois passaram a ser digitados, fotocopiados e colados nos potes. Só mais tarde, foi implantado um rótulo adesivado.

A feira ficou pequena e a espera longa. Aguardar até domingo para comprar os produtos da família já não fazia sentido. Praticamente pressionados pelos clientes, foram introduzindo os potes em mercearias, armazéns e outros estabelecimentos. A Preparo Alimentos também expandiu para cidades vizinhas.

Nesse momento os filhos já tinham atravessado fronteiras. Esse, o segundo grande orgulho. O tempero providenciou boas salpicadas de conhecimento e qualificação profissional aos três filhos do casal. 

Para tanto, a produção aumentou e o cansaço acompanhou. No final de 2012, Adson foi ‘convidado’ a assumir a empresa. Os pais alegaram que estavam sobrecarregados. Aos 27 anos, depois de mais de oito anos atuando como missionário, pegou o negócio para si.

Profissionalização

Com olhar mais empreendedor e arrojado, Adson fez uma radiografia da empresa. Percebeu que era tudo ainda muito rudimentar. “Não havia cadastro de clientes, verifiquei problemas de logística e de marketing”, informa. O produto, conta, não tinha nem código de barra. “Era muito artesanal e o mercado já não queria mais abrir as portas”, relembra.

Segundo o analista do Sebrae, Joubert Amado Camelo, pequenas empresas estagnam quando surgem esses problemas. “O produto pode ter potencial, mas falta conhecimento”, explica. E completa: “O rótulo pode ser a alma do negócio.”

Adson galgou esses degraus. De 2012 para cá aumentou a produção em 20% e dobrou a carteira de clientes. “O produto era bom, mas precisava ser valorizado”, explica. Mais um orgulho são as melhorias estruturais na fábrica, os dois carros na garagem e alguns imóveis. E tudo começou com a humildade de pedir 10 cabeças de alho emprestadas.

"Hoje temos maquinários para triturar condimentos e descascar o alho, mas os ingredientes são misturados manualmente para manter a qualidade.”
Adson Batista Freitas ,empresário



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