Tudo começou com os ouvidos aguçados dos pais ao pitaco da filha caçula de 12 anos. “Vamos fazer aquele tempero da titia, mamãe?”. O ano era 1997 e o conselho poderia parecer estranho num momento em que Pedro Batista e Daudite Freitas lidavam com a falência recente de duas lojas e precisavam retomar as rédeas do orçamento doméstico.
Nada de ouvidos moucos. Foram pedidas 10 cabeças de alho emprestadas. Isso mesmo, emprestadas. Esse foi o início da produção do primeiro lote de temperos da Preparo Alimentos. Atualmente, a fábrica de Campos Belos, na região Norte do Estado, comercializa, em média, 3,5 mil potes mensais do produto.
Mas histórias de sucesso semelhantes a essa costumam ter ingredientes difíceis. Amargos até. Depois do dissabor de não conseguir driblar as dificuldades econômicas dos primeiros anos do Plano Real, a família Batista Freitas tinha que trilhar um novo caminho para a criação dos filhos: Ábia, Adson e Adna Freitas, de 16, 14 e 12 anos, respectivamente.
Assim, os cinco integrantes da família começaram a vender de porta em porta o condimento caseiro – o produto era armazenado em pequenos potes de margarinas e colocados em sacolas de plásticos. Inclusive, o acerto da receita, nunca modificada, é razão do primeiro orgulho. “Hoje temos maquinários para triturar condimentos e descascar o alho, mas os ingredientes são misturados manualmente para manter a qualidade”, enfatiza Adson.
Das sacolas que rasgavam no meio da caminhada entre as ruas do município, na época, com pouco mais de 15 mil habitantes, ajeitaram uma banca na feira dominical e passaram a carregar os produtos num carrinho de mão. “Embora meus pais sempre tivessem incentivado o trabalho desde pequeno, tínhamos certa vergonha dessa caminhada à feira. Todos achavam que a caçula não tinha, mas ela admitiu que engoliu em seco só para ganhar churrasquinho”, confidencia Adson.
Um adendo: ele, aos 10 anos, ganhou uma caixa de engraxate para ficar na frente da loja dos pais e aproveitar os sapatos de algum cliente para ganhar uns trocados. “Meus pais sempre nos mostraram os valores do trabalho e somos bem quistos na cidade.”
Só na feira começaram a comercializar cerca de 80 potes de 500 gramas. Os primeiros rótulos eram escritos à mão, depois passaram a ser digitados, fotocopiados e colados nos potes. Só mais tarde, foi implantado um rótulo adesivado.
A feira ficou pequena e a espera longa. Aguardar até domingo para comprar os produtos da família já não fazia sentido. Praticamente pressionados pelos clientes, foram introduzindo os potes em mercearias, armazéns e outros estabelecimentos. A Preparo Alimentos também expandiu para cidades vizinhas.
Nesse momento os filhos já tinham atravessado fronteiras. Esse, o segundo grande orgulho. O tempero providenciou boas salpicadas de conhecimento e qualificação profissional aos três filhos do casal.
Para tanto, a produção aumentou e o cansaço acompanhou. No final de 2012, Adson foi ‘convidado’ a assumir a empresa. Os pais alegaram que estavam sobrecarregados. Aos 27 anos, depois de mais de oito anos atuando como missionário, pegou o negócio para si.
Profissionalização
Com olhar mais empreendedor e arrojado, Adson fez uma radiografia da empresa. Percebeu que era tudo ainda muito rudimentar. “Não havia cadastro de clientes, verifiquei problemas de logística e de marketing”, informa. O produto, conta, não tinha nem código de barra. “Era muito artesanal e o mercado já não queria mais abrir as portas”, relembra.
Segundo o analista do Sebrae, Joubert Amado Camelo, pequenas empresas estagnam quando surgem esses problemas. “O produto pode ter potencial, mas falta conhecimento”, explica. E completa: “O rótulo pode ser a alma do negócio.”
Adson galgou esses degraus. De 2012 para cá aumentou a produção em 20% e dobrou a carteira de clientes. “O produto era bom, mas precisava ser valorizado”, explica. Mais um orgulho são as melhorias estruturais na fábrica, os dois carros na garagem e alguns imóveis. E tudo começou com a humildade de pedir 10 cabeças de alho emprestadas.
"Hoje temos maquinários para triturar condimentos e descascar o alho, mas os ingredientes são misturados manualmente para manter a qualidade.”
Adson Batista Freitas ,empresário
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