O
brasileiro-palestino Islam Hamed, de 30 anos, completou hoje (22) o 41º
dia de greve de fome. Desde o dia 11 de abril, quando começou o
protesto, até agora ele perdeu 17 quilos. Esta semana, Hamed apresentou
sangramento no nariz por dois dias, disse a brasileira Nádia Hamed, que
visitou o filho na prisão palestina na cidade de Nablus.
“Eu cheguei muito triste da visita. Ele emagreceu mais 2 quilos
[desde a última visita, há uma semana] e está com uma olheira funda. Ele
está fraco, mas anda. Não pode brincar muito com o filho ou pegá-lo no
colo”, relatou. Nádia voltou a reclamar das condições da prisão e do
isolamento do filho. “Como ele não conversa com ninguém, fica a semana
inteira sozinho. Quando a gente vai lá, ele tem vontade de ficar
conversando. A gente sente como ele faz esforço pra conversar”, disse a
mãe de Hamed, que ficou cerca de duas horas com o filho.
Para o médico nutrólogo José Lara Neto, vice-presidente da Associação
Brasileira de Nutrologia, o quadro clínico de Islam merece atenção. “As
pessoas podem suportar muito tempo sem se alimentar dependendo da
reserva de energia que tenham. Aproximadamente 30 a 40 dias”. Quando
começou a greve de fome, Islam pesava 101 quilos.
“Com a quantidade de peso que perdeu, ele já está usando toda a
gordura e vai começar a consumir todos os músculos. Qualquer dieta
abaixo de 700 calorias cria ácidos e isso o cérebro não aceita ao longo
tempo. Ele entra em um quadro de hipoglicemia que é violenta e altamente
tóxica para o cérebro. É como se fosse um ataque epiléptico prolongado.
O cérebro não funciona e deixa de ter vontade própria. Ele não vai ter
opção, muitas vezes, de recorrer a si mesmo quando for necessário. Ele
corre risco de morrer, verdadeiramente”, explicou Lara Neto.
Enquanto o quadro de saúde do brasileiro se agrava, as negociações
para sua repatriação não avançam. O impasse envolve os governos do
Brasil, de Israel e da Palestina. Em nota divulgada na noite de
terça-feira (19), o Itamaraty informa que nos últimos dias o governo
brasileiro tem feito gestões junto às autoridades da Palestina e de
Israel para que Islam seja liberto e possa vir para o Brasil. No
entanto, a Chancelaria “lamenta que suas gestões não tenham até o
momento sensibilizado os governos palestino e israelense”.
O embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzben, disse que o
governo palestino aguarda uma posição de Israel, porque da parte
brasileira não há mudança: “Entregar à família, entregar à embaixada
[brasileira] e garantir que ele saia e não tenha nenhum incidente
desagradável”. O embaixador, que esta semana está na Venezuela, ainda
não tinha tomado conhecimento do comunicado do Itamaraty e disse que só
irá se pronunciar sobre o assunto quando retornar ao Brasil.
Islam está preso desde 2010, mas sua pena terminou em setembro de
2013. Segundo a Autoridade Palestina, a justificativa para mantê-lo na
cadeia é que, uma vez fora da prisão, ele poderia voltar a ser preso,
dessa vez por Israel, com quem Islam teria “pendências” a resolver. Como
todos os deslocamentos, seja dentro do território palestino, seja para
cruzar as fronteiras do país dependem de autorização de Israel, a
solução passa pelas autoridades israelenses.
A reportagem da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) entrou em contato
com o Ministério de Assuntos Estrangeiros de Israel na terça-feira e
perguntou se, de fato, existem pendências de Islam Hamed com a Justiça
de Israel e quais seriam essas pendências. No entanto, até o fechamento
dessa reportagem não obteve resposta.
A condição colocada pela Autoridade Palestina para que Islam deixe a
prisão é que a família ou o governo brasileiro se responsabilize por sua
segurança. A família tem se recusado a assinar o documento porque diz
não ter condições de garantir a proteção que deveria vir do Estado. Mas a
atual situação de Hamed tem levado a família a pensar nessa
possibilidade.
“Nós ficamos muito desesperados hoje depois da visita e pensamos em
sair e assinar esse documento que eles querem, porque está muito difícil
ver ele assim. Mas, meu filho [irmão mais velho de Islam] acha que não,
porque o resultado a gente sabe o que vai ser. A gente tem medo do que
pode acontecer com a vida dele. A gente vai esperar mais um pouco”,
ressaltou Nádia.
Fonte: Agência Brasil
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