sexta-feira, 16 de setembro de 2011

História do Povoado Barreirão

UMA ILHA NORDESTINA NOS CONFINS DE GOIÁS



            Por volta do final dos anos 50 do século 20 desceram a Serra Geral, montados em jumentos e burros, em busca de boas terras, neste pedaço de chão do Norte de Goiás, muitos homens e mulheres, refugiando-se d seca e da “carestia”. Baianos de cidades como Correntina, Vitória da Conquista, Santa Maria da Vitória entre outras, se alojaram ao longo da GO-118, entre as saídas de Taguatinga e Monte Alegre de Goiás, assim fundando uma “Vila Baiana” em Campos Belos.

            Mas muitos desses baianos se fixaram em fazendas compradas ou agregadas ao redor do local aonde viria ser o atual Povoado Barreirão, que recebeu esse nome por ser construído próximo a um dos maiores barreiros[1] da região. O barreiro perto do qual se formou a comunidade se transformou numa lagoa, onde as pessoas faziam adobes para construção de casas no local, num terreno de pouco mais de um alqueire doado pela senhora Maria dos Santos.

            Com a chegada de grande quantidade de baianos, formando uma espécie de “Ilha” de nordestinos, a comunidade se estruturou e foi erguida uma Igreja e um barracão para a transferência da feira aos domingos que até então funcionava na fazenda do senhor Adelino dos Santos. Contam os pioneiros que durante a Feira do Barreirão, no corredor que dava para a Escola, próxima a residência do senhor Henrique, a uma distância de aproximadamente 800 metros, em cada poste de cerca dos dois lados, havia um cavalo amarrado.

            Na Feira do Barreirão aconteciam os domingos mais animados da região e, do movimento de vendas se transforma em acalorados matinês. Nesta feira se vendia desde arroz socado no pilão às melhores fazendas de tecidos trazidas até de São Paulo. Mas a feira causou ciúmes nos comerciantes de Campos Belos, os quais solicitaram que o prefeito municipal senhor Ranulfo Cordeiro a transferisse para a zona urbana. De acordo com o senhor Lauro, filho do senhor Candido, mais conhecido como “Candinho”, “os baianos se revoltaram”, ofereceram resistência, mas a feira acabou sendo transplantada para a cidade, para “debaixo de um pé de tamboril” ao lado da Escola Professora Ricarda. Esse ato provocou o fim da feira do Barreirão.

            Com o movimento comercial do povoado Barreirão em torno da feira, a comunidade organizou um histórico time de futebol com características próprias. No povoado se batiam em times famosos, pois equipe do Barreirão praticava um tipo de jogo aéreo com propósito de defender mais do que atacar. Esse esquema de jogo que ficou conhecido como “balão” confundia e irritava o adversário levando o time a se tornar imbatível na maioria das vezes. Quando se chuta a bola para cima sem direção até em campos de peladas de Brasília, ouve-se a expressão “BARREIRÃO!”,

            A partir da década de 1970 os baianos foram se dispersando e mudando de profissão: de comerciantes e pequenos produtores passaram a funcionários públicos e políticos. Com o mesmo objetivo dos baianos nas décadas anteriores começaram a chegar ao povoado outros nordestinos, que tiveram como precursor o senhor Zé Piauí. Os piauienses são católicos praticantes, pacíficos, também comerciantes e esportistas.

            Hoje a “Ilha” é povoada em sua maioria por esse novo grupo de nordestinos que através de uniões matrimoniais se integraram aos goianos e baianos residentes e nativos da região. O esporte que praticam – o futebol – assim como os baianos até por volta da década de 1980, eles são os principais organizadores. Dentre esses times se destaca, como um dos melhores do município, o “BRAMINHA”, que exceto dois ou três participantes formam a “família esportiva Piauí” da comunidade Barreirão.

                Algumas curiosidades fazem parte da história do povoado Barreirão, como o fato de uma pequenina comunidade possuir dois padroeiros – São João Batista e Nossa Senhora de Fátima. Por outro lado seguindo a tradição do espírito festeiros dos baianos e piauienses, já se tentou criar a festa da manga e do caju sem que a população tivesse qualquer relação econômica com essas frutas. Curiosamente, no Barreirão, baianos e piauienses se integram a goianos, numa dinâmica social típica de uma ilha, para, nos confins de Goiás, conservar a nordestinidade na região, aspecto cultural que contribui para a formação do gentílico camposbelense.



Adelino Machado.




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