sábado, 9 de junho de 2012

MORRE O ESCRITOR IVAN LESSA

Lessa morreu em sua casa, em Londres, na tarde de sexta-feira (8). A causa da morte ainda não foi divulgada, mas o escritor estava com enfisema pulmonar e problemas cardíacos.
"Ivan Lessa foi um escritor indomável. Foi irônico, mordaz, provocador, iconoclasta e surpreendentemente lírico --acima de tudo brilhante no trato com as palavras. Sua contribuição à resistência democrática está registrada nas páginas do Pasquim, um espaço de liberdade e crítica que Ivan e seus companheiros souberam abrir, com humor e astúcia, para toda uma geração de brasileiros, num momento em que isso parecia impossível", disse em nota.
Para Sérgio Augusto, escritor e jornalista que conviveu com Ivan Lessa na redação do "Pasquim" durante seis anos, Lessa era muito inventivo e tinha uma maneira muito peculiar de ver as coisas.
"O Ivan Lessa foi uma das pessoas mais engraçadas, debochadas e inteligentes que já conheci. Uma inteligência realmente extraordinária. Nos conhecemos em 1968, quando ele já estava em Londres. E quando o Pasquim começou [em junho de 1969] viramos amigos por correspondência. Em 1972, Ivan voltou ao Brasil e ficou por aqui até 78. Nesse período, com o convívio na redação do "Pasquim", consolidamos nossa amizade."
O apresentador e humorista Jô Soares conheceu a sua primeira mulher graças a um desencontro com Lessa.
"Em 1959, tínhamos combinado que ele passaria na minha casa, no Rio, para me levar a um Fluminense x Botafogo. Simplesmente não apareceu. Como eu não tinha dinheiro para outro lazer, fui ao teatro, onde conseguiria entrar de graça porque já conhecia algumas pessoas. Lá encontrei aquela que viria a ser minha mulher."
Jô definiu o escritor como um homem inteligente e com um senso de humor extraordinário.
"Lembro de quando ele fez a primeira tradução para o português de 'A Sangue Frio', do Truman Capote [em 1966]. Fiquei admirado. Foi muito rápido; ele traduziu em tempo recorde. O livro saiu aqui [pela Nova Fronteira] logo depois do lançamento nos EUA."
O jornalista Carlos Leonam lembrou da sinceridade do jornalista e de seu bom humor.
"Conheci o Ivan no início dos anos 60, quando eu era diretor da [editora] Nova Fronteira. E ele era tradutor. Lembro que pedi a ele para revisar uma tradução, feita por um outro profissional, de "Os canhões de Navarone". No dia seguinte, ele entrou no meu escritório e disse: 'Seu tradutor chamou yellow bastard [expressão equivalente a covarde] de bastardo amarelo. Não vou revisar essa porcaria'. Sempre gostei de cultura inútil, e o Ivan também. E suas conversas eram sempre pontuadas por muita inteligência, humor e ironia".

Fonte: A Folha

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